fechar, como?

fechar, como?

segunda-feira, 30 de julho de 2007

no tom

não quero mais sair do tom
quero afinação todos os dias
estar dentro das melodias
todas as que se possa cantar

não quero mais sair do tom
quero tocar e ser tocado
aqui, ali e do lado
para dormir e para gozar

quero andar no tom
quero ouvir o tom
quero comer o tom
quero sentir o tom

e no tom, rindo de sua pouca idade,
quero sentir só felicidade

maré raza

hoje a maré está raza e a pele em braza
pirraça
a cara carrancuda e a palavra muda
mas passa

passam e ficam

dentre os que passam e os que brincam de ficar
mesmo indo
há os que ficam e brincam de ir
mesmo estando

resta-nos a maravilhosa capacidade
de guardar em nós
entre lisuras e nós
o cheiro deixado de riso e saudade

quarta-feira, 25 de julho de 2007

malas

o tempo é indolente
sem mais nem menos diz, passei
outro dia eu arrumava as malas pra ir
agora, dessarrumo-as porque voltei

mais outono que primavera

nem tudo que trago é riso
nem tudo que mora em mim é cor
nem sempre o que me adormece é flôr
nem sempre é suave onde piso

de tudo que me constitui
o que sou agora e o que fui
nem tudo é primavera
há de chuva, há de vento
furações por fora e por dentro
folhas sêcas e espera

e há também o que não se diz
represado na boca por um triz
fechado na cor do outono
e há a vontade ser
aquilo que os outros insistem em não ver
enganados? não sei como

e se sei não diria
um tanto por não ter as palavras
outro tanto por incapacidade
de confessar pensamento e idade

nem tudo que trago
nem tudo
nem sempre que digo
nem sempre
primavera
outono

jeito bárbara

espera
eu preciso dizer
espera
caiu orvalho aqui
tem um compasso de coração
tem respiração ofegante
espera
tem palavra doce, palavra grande
cheiro de coisa boa de cheirar
gosto de coisa boa pro paladar
música que não dá pra represar
espera
tem jeito de Bárbara no ar

(para bárbara milher)