fechar, como?

fechar, como?

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

oitavo pecado

nunca entendi porque a impaciência
não é o oitavo pecado original
se foi por impaciência que o homem
foi expulso do paraíso
e por sua causa não consegue voltar

segunda-feira, 30 de julho de 2007

no tom

não quero mais sair do tom
quero afinação todos os dias
estar dentro das melodias
todas as que se possa cantar

não quero mais sair do tom
quero tocar e ser tocado
aqui, ali e do lado
para dormir e para gozar

quero andar no tom
quero ouvir o tom
quero comer o tom
quero sentir o tom

e no tom, rindo de sua pouca idade,
quero sentir só felicidade

maré raza

hoje a maré está raza e a pele em braza
pirraça
a cara carrancuda e a palavra muda
mas passa

passam e ficam

dentre os que passam e os que brincam de ficar
mesmo indo
há os que ficam e brincam de ir
mesmo estando

resta-nos a maravilhosa capacidade
de guardar em nós
entre lisuras e nós
o cheiro deixado de riso e saudade

quarta-feira, 25 de julho de 2007

malas

o tempo é indolente
sem mais nem menos diz, passei
outro dia eu arrumava as malas pra ir
agora, dessarrumo-as porque voltei

mais outono que primavera

nem tudo que trago é riso
nem tudo que mora em mim é cor
nem sempre o que me adormece é flôr
nem sempre é suave onde piso

de tudo que me constitui
o que sou agora e o que fui
nem tudo é primavera
há de chuva, há de vento
furações por fora e por dentro
folhas sêcas e espera

e há também o que não se diz
represado na boca por um triz
fechado na cor do outono
e há a vontade ser
aquilo que os outros insistem em não ver
enganados? não sei como

e se sei não diria
um tanto por não ter as palavras
outro tanto por incapacidade
de confessar pensamento e idade

nem tudo que trago
nem tudo
nem sempre que digo
nem sempre
primavera
outono

jeito bárbara

espera
eu preciso dizer
espera
caiu orvalho aqui
tem um compasso de coração
tem respiração ofegante
espera
tem palavra doce, palavra grande
cheiro de coisa boa de cheirar
gosto de coisa boa pro paladar
música que não dá pra represar
espera
tem jeito de Bárbara no ar

(para bárbara milher)

sexta-feira, 29 de junho de 2007

espera e demora

acabou a espera
acabou a demora
agora
espera
só pela hora de te rever
demora
só no calor dos abraços
espera
só pelo café-da-manhã de um pro outro
demora
só no banho que daremos um no outro
espera
só pelo riso
demora
só no beijo
espera
só pelo próximo gozo
demora
só no que nos encaminha a ele
acabou a espera
acabou a demora
o resto das nossas vidas
começou agora

terça-feira, 26 de junho de 2007

mulher-mulher

serena e agitada
romantica irrecuperável
luz, energia, brilho
sorriso e lágrima
todas as cores do mundo
conto de fadas e dias das bruxas
dia e noite
pés descalços e salto alto
palavra, olhar, toque
mulher-mãe
mulher-filha
mulher-irmã
mulher-tia
mulher-mulher
essas palavras, em conjunto,
talvez digam uma parte da gradeza dessa
que trago tatuada no coração
cujos laços estarão sempre atados
aquele laço que a gente sente
aquele sempre que a gente confia

(para lila)

mesa de bar com música ao vivo

doce e terna
suave e gentil
menina e mulher
sinto que te conheço tanto
sinto que estamos tão intimamente ligados
que passe o tempo que passar
haja a distância que houver
pra você contarei tudo
de você escuto qualquer coisa
e sempre com a impressão que nos vimos ontem
numa carona até a Cardeal da Silva
onde o carro era divã
confessionário
picadeiro
e mesa de bar com música ao vivo

(para diala)

presente por acaso

ai foi por acaso,
no acaso esperado por quem anda por essas bandas...
algumas palavras virtuais,
o telefone começou a tocar,
frases longas,
grandes períodos...
e tinha riso, confissão, palavra baixa
e mais riso.
olho no olho, todos os ajustes...
as vezes a gente precisa de tempo pra entender
que presente é este presente que acaba de receber.

(para duto (nada adulto))

água molhada

uma imagem me tomou enquanto te lia
parecia brincadeira...
nós éramos filetes de água que desenhavam
caminhos curvos, dançantes e molhados.
num instante aquele, se encontravam, misturavam...
a água se molhava na outra água, outra água se tornava
e, ainda que os filetes num instante este, se separassem,
as águas não se secavam uma da outra.
e assim, águas molhadas, portanto mais água que antes
seguiam seu caminho ansiosas por se molharem noutras
levando aquela consigo para todo o sempre, amém.
minha água é feliz por se misturar à sua.

(para nana)

palavra calada

na boca faz-se a vontade de dizer
a palavra que defina, explique, esclareça...
e ela não vem.
aceito o inefável e torço para que meu olhar,
riso e calor dos braços sejam capazes
de te fazer nunca duvidar:
sou mais um dentre os que te desejam sempre perto,
seja qual for a distância que teime existir.

(para índia)

flôr de encanto

só me vêm palavras simples
nada elaborado, sofisticado
só me surgem pensamentos leves
nada racionalizado, pesado
sofro influência do seu sorriso
que brilha, inebria, contagia
e deixa minha palavra assim
simplinha, docinha, quentinha
como meu encanto
que cresce, amadurece, floresce

(para luis américo)

sexta-feira, 25 de maio de 2007

seja eu

o que quer que eu seja
sou do princípio ao fim
e em profundidade
pago o preço

o que quer que eu seja
precisa do outro para ser inteiro
seja pelo muito que nos assemelha
ou pelo pouco que nos distingue

o que quer que eu seja
tem muito de inefável
de interrogação
mais sim que não

o que quer que eu seja
é no ensurdecedor silêncio
e no canto escuro do salão iluminado por sonhos
que se faz e refaz
do princípio ao fim
e em profundidade

tantas canções

um cantinho, um violão
que é de sonho e de pó.
com a mente quieta, a espinha ereta
ando pelo mundo divertindo gente.
quando bebo não me responsabilizo:
nem alegre, nem triste, nem poeta

eu tenho febre, eu sei
quero (mesmo) que esse canto, feito faca,
corte a carne de vocês.

debaixo de sete chaves, dentro do coração,
num soluço e na vontade de ficar mais um instante,
cá estou eu: bandoleiro.

(para zé feijão)

quem é você?

eu não te sei
nem como, onde, porque ou quando.
és menino?
és homem?
és mulher?
e aquelas plantas estão em ti?
aqueles bichos são você?
estás na arte, no mar?
de que tamanho és? de uma ilha, talvez?
quando sorris, porque sorris?
e quando calas, porque demoras?
sei apenas da tua voz que é grave,
do teu afago que é breve
e do teu afeto que é leve.
quisera eu ter mais tempo
para te saber.
quem é você?

(para murilo)

delícia cremosa

é minha e é preta
ta disfarçada de não ser
nem minha, nem preta
mas é

está presente sempre
ta disfarçada de não está
nem orkut, nem celular
mas está

junte um bocado de dor (pra delícia ficar terçã)
um punhado de ana (aquela de Chico, a de Amisterdan)
ta feita uma mulher
gostosa e bacana
minha preta doriana.

(para dóris)

jujuba

bolinha de goma
polvilhada de açúcar
não se come uma só vez
tem a azul, a verde a amarela...
tem o olhar, o sorriso e o gemido...
descobri, recentemente, que tem fumaça também
mas, tem bem
mas, faz bem
faz voz de neném
e então, não há quem
coma uma única vez
a bolinha de goma
polvilhada de açúcar
- sem glúten, por favor!

(para justina)

sol entre nuvens

oi, amor!
a meteorologia advertiu:
haverá sol entre nuvens.
as nuvens poderão ser, por vezes, cinza,
carregadas de saliva, suor e lágrima.
poderá ocorrer, no decorrer do período
bom vinho, caipirinha e muito sono.
mas, haverá sol entre as nuvens.
sorte sua se se banhar
num raio desse sol
é quente, é terno e quase excitante
quando ele atende ao telefone, dizendo:
oi, amor!

(para solange)

perigo! felinos de pequeno porte

eu não gosto de gatos!
e, aos que, como eu,
acham esses felinos de pequeno porte
indolentes, orgulhos e antipáticos
alerto: evite-os!
você poderá ser vitima
da indolência com que
se aninham no seu colo (quando querem)
do orgulho com que esfregam em você
seu pêlo brilhante e macio (quando querem)
da antipatia com que se derretem
caso você os toque no lugar e no momento certo.
se tudo isso acontecer, você estará vitimado e cativo.
ah, para o aviso se dá completo, ainda alerto:
entre tais felinos de pequeno porte
fuja dos de pêlo preto e branco e focinho cor-de-rosa
são os piores!


(para tedy (o gato))